Coringa – uma análise breve e pontual das críticas ao filme

O lançamento de Coringa em 2019, dirigido por Todd Phillips e estrelado por Joaquin Phoenix, provocou uma das maiores ondas de debate do cinema recente. A obra não se limitou a ser um filme de quadrinhos: tornou-se um fenômeno cultural que dividiu opiniões entre aplausos entusiasmados e críticas severas. Ao mesmo tempo em que arrebatou prêmios importantes, o longa gerou polêmicas sobre sua violência gráfica, sua abordagem da saúde mental e seu impacto cultural.

Coringa
Joaquin Phoenix durante as gravações do filme Coringa.

A violência em debate

Um dos pontos mais controversos foi a representação da violência. Para alguns críticos, como Richard Lawson (Vanity Fair), a brutalidade estilizada do filme corre o risco de tornar a violência atraente para espectadores impressionáveis. A crítica principal é que Arthur Fleck, ao se tornar Coringa, parece transformar sua dor em espetáculo, e isso poderia ser interpretado como legitimação da violência como resposta ao sofrimento.

Por outro lado, defensores argumentam que a violência não é gratuita, mas sim narrativa: ela traduz a degradação mental de Arthur e expõe o colapso de uma sociedade desigual e indiferente. Nessa leitura, a violência é o choque necessário para despertar o público sobre os efeitos da marginalização.

Saúde mental: crítica ou estereótipo?

Outro eixo de polêmica foi a forma como o filme retrata a saúde mental. Eliana Dockterman (Time) aponta que Coringa associa doenças mentais à criminalidade, reforçando estigmas nocivos. O personagem, nesse olhar, parece reduzir uma questão complexa a um retrato simplista: doença leva à violência.

Mas há também uma leitura oposta: o filme seria uma denúncia ao abandono social. Arthur perde acesso ao tratamento, é ridicularizado em público e, sem apoio, entra em colapso. Esse ponto de vista sugere que a narrativa é menos sobre a doença em si e mais sobre a falha estrutural em acolher os vulneráveis.

Gotham como metáfora social

A Gotham City de Phillips é quase um personagem. Inspirada em Nova York dos anos 1970 e 1980, é um ambiente hostil, marcado por pobreza, desigualdade e ressentimento coletivo. Nesse cenário, Arthur não é apenas um indivíduo isolado, mas símbolo de uma classe inteira invisibilizada. David Ehrlich (IndieWire) elogia essa dimensão social, mas reconhece que o filme por vezes hesita entre crítica social e a tentação de glorificar a violência.

A atuação que dividiu e conquistou

A performance de Joaquin Phoenix foi unanimemente reconhecida como intensa e transformadora. Sua entrega lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, mas nem todos viram apenas méritos. Anthony Lane (The New Yorker) considerou a atuação excessiva em alguns momentos, quase sufocando a narrativa.

Ainda assim, é inegável que Phoenix deu ao personagem uma dimensão humana e perturbadora, capaz de despertar tanto empatia quanto desconforto. Essa dualidade é parte da força do filme.

Estilo e influências

A estética de Coringa foi comparada a clássicos de Martin Scorsese, como Taxi Driver e O Rei da Comédia. Alguns críticos viram nessa homenagem um sinal de riqueza estética; outros, um limite criativo. Para A.O. Scott (The New York Times), Phillips não escapa da sombra de Scorsese, tornando o filme uma espécie de imitação estilizada.

Ainda assim, o resultado foi uma obra que se diferenciou radicalmente dos filmes tradicionais de super-heróis, abrindo caminho para um novo olhar sobre o gênero.

Responsabilidade artística

A polêmica maior talvez seja essa: até que ponto um filme deve responder pelas interpretações que desperta? Para Todd Phillips, Coringa é um espelho que mostra a falência da sociedade. Mas críticos como Anne Thompson (IndieWire) alertam que o diretor subestima o poder do cinema, já que espectadores diferentes podem ver na mesma narrativa tanto uma denúncia quanto uma apologia.

Esse dilema é central: a arte deve apenas refletir ou também se responsabilizar pelo efeito que causa?

Conclusão

Coringa (2019) é uma obra que ultrapassa a tela. Sua representação da violência, sua abordagem da saúde mental e sua crítica social geraram debates que ainda ecoam. Se, para alguns, é um filme perigoso por sua ambiguidade, para outros é um alerta necessário sobre o abandono e a desigualdade.

Ao final, talvez o valor de Coringa esteja justamente em sua capacidade de provocar desconforto. É um filme que incomoda porque expõe o que preferimos não ver: as falhas de um sistema que empurra os vulneráveis para a margem e depois se espanta com o que nasce dessa exclusão.

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